Páginas

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Rastreamento de encomendas na França

Eu tenho que confessar que não sou fã dos serviços aqui da França. Essa cisma que eles têm de fazer tudo por carta é super irritante, nada eficiente e extremamente anacrônica. Só pra dar um exemplo básico, outro dia eu estava fazendo uma compra pela internet e precisava confirmar a operação digitando um código que eu receberia por SMS. O problema é que eu não tinha celular na época em que abri a conta, então eles não tinham o número pra mandar a mensagem. Fácil de resolver: é só entrar no site do banco e cadastrar, certo? PÉÉÉM! Errado! Tem que entrar no site do banco, baixar um formulário em PDF, preencher à mão, enviar pelos correios, esperar uns dias até receber a confirmação do cadastro e aí sim finalizar a compra. Praticidade zero.

Mas talvez por causa desse apego pelo sistema postal, várias facilidades referentes ao segmento acabaram sendo desenvolvidas. Uma das mais legais é a conta do twitter @suivi_avec_lisa, um bot criado pelo grupo La Poste (os Correios daqui) com o objetivo de acompanhar encomendas registradas. É só seguir a conta mencionada, esperar que ela te siga – é automático – e em seguida mandar uma DM pra ela com o número da encomenda.


A partir daí, todas as vezes em que o status da entrega for atualizado, você recebe uma DM informando o paradeiro do seu pacote ou carta.

Bacana, né?

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Sephora, me chicoteia!

sephora paleta maquiagem

Funciona assim: você entra na Sephora pra dar uma olhada porque estava passando por ali mesmo, que mal faz? De repente vem uma moça sorridente querendo te ajudar, e você comenta alguma coisa sobre um primer do qual ouviu falar.

Em pouco mais de um segundo você está sentada numa cadeira sem saber direito como foi parar lá, e a moça sorridente está lambuzando metade do seu rosto com o primer que você mencionou e completando o look com uma base, uma sombra, um blush, um batom e um iluminador que, pode confiar, vão muito bem com a sua pele.

Aí ela vem com o espelho e te mostra a metade mais bonita do seu rosto, a metade que está maquiada. Ela está com a vantagem. Pra sair dali linda, você depende da boa vontade da moça sorridente; se você for legal e mostrar intenção de comprar pelo menos um dos produtos, ela maquia a outra metade. Só que a esse ponto você nem precisa mais fingir interesse, e pensa como foi que viveu tanto tempo sem aquela base, aquele blush, aquele batom e aquele iluminador incríveis.

No instante seguinte você está no caixa da loja com todos aqueles produtos e mais uma paleta promocional de maquiagem que tem trezentas cores de sombra, duzentas de gloss, uns creminhos coloridos que você não sabe pra que servem e um pincel pra cada coisa. A moça do caixa, também sorridente, te dá várias amostras grátis de cremes, perfumes e afins. Você é uma pessoa linda, cheirosa, hidratada e maquiada, além de provavelmente falida. Mas você está feliz, e é isso que importa.

domingo, 12 de dezembro de 2010

Diário de uma sedentária

Eu juro que tentei ser uma pessoa fisicamente ativa quando cheguei em Paris. Fiz matrícula no Club Med Gym, paguei um ano adiantado e comecei animadona pra perder uns quilinhos, diminuir o estresse e a dor na coluna. Mas aí foi ficando frio e foi dando cada vez mais preguiça de sair de casa e andar vinte minutos pra chegar lá, e eventualmente eu acabei assumindo que eu detestava a academia, detestava os professores, detestava a série de musculação ridícula que me passaram e parei de ir.

Um belo dia eu descobri uma estúdio de yoga e pilates bem pertinho de casa e comecei a fazer aulas, animadona de novo. Só que deu agosto e em agosto tudo fecha em Paris, inclusive estúdios de yoga e pilates. Quando teve a rentrée em setembro, que é o equivalente francês da volta do Carnaval e quando tudo começa a funcionar de verdade, eu fiquei enrolando pra voltar, ficou frio de novo e eu acabei nunca mais voltando.

Aí semana passada eu comprei pela internet um vélo elliptique, que é aquele aparelho que no Brasil a gente chama de elíptico ou transport. Chegou sexta de manhã e eu fiquei mais uma vez animadona. Só tinha me esquecido que aqui as coisas não são tão fáceis assim e que eu teria que montar meu vélo sozinha, o que não me parecia nada legal depois que eu penei pra realizar o simples ato de tirar as peças de dentro da caixa. O manual de montagem foi ainda mais cruel ao dizer que era necessário o trabalho conjunto de duas pessoas pra realizar a tarefa.

Dez horas e algumas crises de nervos depois, consegui finalmente terminar de montar o troço. Ironicamente, a atividade me custou uma puta piora na minha dor na coluna e um bocado de estresse, que eu por consequência aliviei comendo todas as (poucas, ainda bem) coisas doces da despensa. Tô moída e desanimadona. Mas dessa vez, depois desse trabalho todo, vai ter que dar certo.



sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Paris, 4 graus


Neva.

É a primeira neve, e ainda nem chegou o inverno.

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

As bonequinhas de Alain Delorme

A menina tem um bolo. Ela olha para a câmera com um sorriso que tem um quê de forçado, ou mal sorri. Um adulto, cuja presença é aparentemente secundária na foto, a guia de forma a mantê-la na posição correta. A menina é perfeita, tal qual uma boneca, tal qual o bolo que está na sua frente.





As imagens da série "Little Dolls", do fotógrafo francês Alain Delorme, de tão assépticas chegam a ser um pouco assustadoras. A técnica utilizada consiste na manipulação da imagem para que o rosto de cada menina, independente de etnia, sofra uma espécie de normatização plástica e fique semelhante a uma boneca Barbie. Assim, o que parece uma linda foto publicitária de repente se revela uma crítica pesada sobre os padrões estéticos e a exigência pela perfeição. Dessa paranoia nem mesmo os pequenos estão livres – segundo o fotógrafo, a criança nunca foi tão protegida e, paradoxalmente, tão destacada como um objeto de comércio. As mãos que mantêm as crianças sob controle nas fotos, afinal, são propositais.

Para ver as outras fotos da série e conhecer mais sobre o trabalho de Delorme, o site dele é esse aqui.

quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Rua dos meninos maus

Inaugurando a seção de nomes de ruas geniais de Paris, voilá a fantástica Rue des Mauvais Garçons, localizada no 4ème arrondissement.

Não se sabe quando a rua entrou oficialmente para a geografia oficial da cidade, mas documentos antigos mostram que já na época de Louis VII, lá pelos idos do século XVII, ela já era habitada e atendia pelo nome de Rue Chartron. Em 1525, com a captura do rei François I na Batalha de Pavia, Paris entra numa fase turbulenta e o crime aumenta na capital. Aparentemente, os bandidos andavam bastante ali por aquela via do Marais, que acabou se tornando a Rue des Mauvais Garçons, ou rua dos meninos maus.


Muito tempo depois, a rua virou também nome de música...

Rue des Mauvais Garçons
Roxane Krief e Julien Régnier

J'me sape un peu salope
Histoire qu'on r'garde que moi
J'me fume clope sur clope
Et pas qu'en chocolat
Oh mais rassurez-vous !
C'est pas la seule chose que j'allume
J'enchaîne les rendez-vous
Les consomme et les consume

Et dire que j'fous ma vie en l'air
A flâner rue des Mauvais Garçons
Pour quelques parties d'jambes à terre
Et soul'ver mes jupons
Et soul'ver mes jupons

J'suis pas ce genre de fille
D'une de celles qu'on passe à l'as
Dame de coeur, je fais l'pari
Que ton roi je le ramasse
A la p'tite cuiller
Je n'en ferai qu'une bouchée
Valets ou jokers
J'les mène tous par l'bout du nez

Et dire que j'fous ma vie en l'air
A flâner rue des Mauvais Garçons
Me noyer dans les verres de bière
Et noircir mes poumons
Et noircir mes poumons

J'suis d'la meilleure école
Celle qu'on appelle buissonnière
Les papillons, les batifoles
J'suis calée en la matière
Allez-y, déchaînez-vous !
Jetez-moi la première pierre
Oh oui, mais que voulez-vous ?
Faut bien qu'j'assure mes arrières

Et dire que j'fous ma vie en l'air
A flâner rue des Mauvais Garçons
Et si j'pouvais faire marche arrière
Et fuir les vagabonds
Et fuir les vagabonds

Et dire que j'fous ma vie en l'air
A flâner rue des Mauvais Garçons
Et si on pouvait éteindre les lumières
Et compter les moutons
Et compter les moutons
Et compter les moutons

Et compter les moutons
Et compter les moutons
Et compter les moutons

terça-feira, 31 de agosto de 2010

Chuva de cocô

Nas notícias nacionais tem o Sarkozy deportando os ciganos romenos e começando uma cruzada contra os imigrantes ilegais. Aí a ONU critica, o Vaticano reclama, um padre de Lille reza para que o presidente francês tenha um ataque cardíaco. Com um pouco menos de destaque tem a continuação do affaire Bettencourt, com o ministro do trabalho Eric Woerth chorando porque – coitado – está sendo vítima de um "apedrejamento midiático" por causa do seu envolvimento no caso.

Nas notícias sobre esportes ainda repercute a ridícula atuação da França na Copa e a consequente suspensão do Anelka da seleção por ter discutido com o técnico Domenech e desencadeado a greve dos bleus. Descobriu-se ainda que vários jogadores do time campeão do mundo de 98 tiveram análises de sangue suspeitas antes da disputa da final da Copa, aquela que eles ganharam da gente.

Aí no noticiário regional do Sudoeste francês tem a história de uma cidade chamada Saint-Pandelon que há meses sofre com uma misteriosa chuva de merda.

Tudo que sobe, desce.


quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Microconto: Beabá


A bala cruzou dura e fatal. Gus havia irritado Jô levando moças na orla para que, roçadas, saíssem todas úmidas. Vociferou: xongas; zarpou.

Microconto: Cantada


– Que áurea aura tens! – disse ele. Ela fez um muxoxo e se foi, odiando a paronímia.

Microconto: Se


Conjugava amar em todas as pessoas enquanto se lembrava do futuro do pretérito que nunca seria perfeito.

domingo, 4 de julho de 2010

Adieu les jaunes

Num gesto tardio e triste, tirei hoje a bandeirona da janela. Mas a derrota do Brasil tem pelo menos um ponto positivo, que é não ter mais que ouvir os comentaristas da TV francesa chamarem a seleção de seleçaô, Robinho de Rubinhô, Juan de Juana, Lúcio de Lutchiô e Maicon de Maicona.

Mas o microfone de bigode vai deixar saudades. Toda vez que eles apareciam era risada garantida.


quarta-feira, 30 de junho de 2010

A única bandeira do 7ème arrondissement

Devido ao pífio desempenho da França na Copa, ainda não consegui descobrir se o povo daqui se anima no mundial que nem a gente. Mas acredito que não, não mesmo. Tudo bem que eles já estavam totalmente desanimados com a seleção francesa, com a entrada roubada da Irlanda pela mão do Henry e com o detestado técnico Domenech, mas peraí! É Copa, pô, é festa, tem que colocar bandeira, enfeitar a rua, fazer barulho...

Não? Ah, não, isso é coisa de brasileiro. Francês é muito chique pra fazer isso. E provavelmente alguns devem ter bufado ao passar na frente da minha casa, porque eu coloquei uma bandeirona do Brasil na minha janela – por dentro, claro, porque eles são chiques mas roubam até bateria de campainha se der mole.


segunda-feira, 31 de maio de 2010

Momento querido diário

Eu tenho sido mesmo uma péssima blogueira nesses últimos meses. Péssima amiga e péssima filha também, porque deixei todo mundo sem notícias, salvo um telefonema aqui e acolá, um email de vez em quando. O fato é que eu estava fazendo o Cours de Civilisation Française de la Sorbonne e ele me esgotava o cérebro de tal forma que eu não queria fazer mais nada da vida. O ritmo é super intenso, com várias aulas e conferências, além de muito trabalho pra fazer em casa.

Mas acabou. Da Sorbonne ganhei um francês um pouquinho melhor e vários amigos de diversos lugares do mundo. Conheci gente de Israel, Japão, Áustria, Colômbia, China, Vietnam, Estados Unidos, Venezuela, Noruega, Suécia. Quem me conhece sabe que eu sempre quis ter esse tipo de experiência internacional, de trocar ideias, de aprender sobre culturas diferentes. Quem não quer, afinal?

No mais, andei viajando por aí, mas isso eu conto depois com mais detalhes. Recebi visita do Leo, e depois da Dani e do Dudu. Bebi bastante cerveja e um pouco de vinho com o pessoal daqui. Conheci alguns restaurantes incríveis. Engordei alguns quilos, por consequência. Li alguns livros, mas não tantos como eu gostaria. E desliguei, enfim, o aquecedor aqui de casa.


Com os dias bonitos e meu humor subindo junto com a temperatura, as perspectivas de novas atualizações no blog são boas. E, mãe, prometo ligar mais, tá?

Bisous pra todos.

sexta-feira, 30 de abril de 2010

Microblogging


É, eu confesso que meu lado preguiçoso me faz escrever mais no Twitter do que aqui. Mas sinto falta de um espaço maior que 140 caracteres...

quinta-feira, 18 de março de 2010

Fome de leitura

Se você perguntar para um francês sobre o hábito de leitura dos franceses, ele provavelmente vai bufar e em seguida reclamar que os livros já não têm a mesma importância de antigamente, que os jovens não dão tanto valor à literatura, que a televisão e a internet fazem com que as pessoas leiam cada vez menos e fiquem cada vez mais burras. Algumas dessas questões são até certo ponto válidas, mas vamos interpretar essa reação de forma objetiva: francês gosta de bufar e de reclamar quase tanto quanto gosta de ler.

Em Paris, basta olhar pra qualquer lado pra constatar que o francês é um consumidor voraz de literatura: sempre vai ter alguém com um livro aberto, independente do lugar e da situação. No metrô, incontáveis leitores, mesmo que o vagão esteja lotado e todo mundo esteja de pé. Pelos parques, principalmente nos meses mais quentes, gente lendo esparramada pelos bancos e gramados. Pelas ruas, gente que anda lendo e esbarrando nas pessoas. Já vi até gente que dirige lendo, olha que perigo! E onde há demanda, claro, há oferta: as bibliotecas, livrarias e sebos aqui são muitos e estão sempre cheios.

Numa breve e superficial análise histórica, podemos dizer que esse fenômeno tem origem lá na época da Revolução Francesa com as ideias de Condorcet sobre a educação popular. Segundo ele, todos deveriam ter acesso ao conhecimento de forma igualitária, pois a democracia só pode existir de fato num país se todos os indivíduos do seu povo – independente de raça, credo ou condição social – conhecem seus direitos. O coitado foi preso por discordar de outros pontos da doutrina revolucionária, mas seu legado foi a base para a criação da escola pública e gratuita na França; além disso, é a partir dessa noção geral de igualdade de conhecimento que foram instituídas ao longo da história recente várias políticas de incentivo à cultura.

Mas todo esse papo foi só porque eu queria mostrar uma placa muito legal que eu vi essa semana na rua:

Você tem fome de quê?: menu "gastronômico" de uma livraria

quinta-feira, 11 de março de 2010

Ikea transforma metrô de Paris em sala de estar

O slogan é simples: Ikea améliore votre quotidien (A Ikea melhora o seu cotidiano). O local da ação é super apropriado por remeter diretamente à ideia pricipal da campanha: o metrô, tão cotidiano na vida dos moradores de Paris. A ação é tão direta quanto é engenhosa: confortáveis sofás da loja anunciante substituem as cadeiras de algumas das principais estações de metrô da cidade – Saint-Lazare (linha 12, direção Porte-de-la-Chapelle), Champs-Elysées-Clemenceau (linha 13, direção Châtillon), Concorde (linha 8, direção Créteil) e Opéra (linha 8, direção Balard).





(Fonte das fotos: flickr da Ikea)

Eu amo quando uma marca me faz relembrar porque diabos eu escolhi ser publicitária.

Em Glasgow

Era um dia qualquer do mês passado. Toca o telefone; era o Pierre:

– Ma, a Ryanair tá em promoção! Vamos pra Glasgow no primeiro fim de semana de março?
– Mas o que tem em Glasgow?
– Não sei, mas tá muito barato.
– Então vamos.

Fomos. Mas a pergunta meio que permanece mesmo depois da viagem: o que tem em Glasgow?

Glasgow é a maior cidade da Escócia e a terceira maior do Reino Unido, o que faria supor que tem muita coisa interessante lá. Só que seu crescimento aconteceu principalmente a partir da Revolução Industrial, o que faz com que os prédios antigos e charmosos sejam poucos e as construções cinzas e as casas sem graça de tijolinhos sejam muitas. A expectativa geral da nossa comitiva – eu, Rafa, Gi e Pierre – era de encontrar uma espécie de Dublin em tamanho ampliado, mas, embora os escoceses sejam tão simpáticos quanto os irlandeses, as duas cidades são bem diferentes entre si. Glasgow, claro, sendo pior.

Mas, vá lá, tudo tem seu lado bom.

Os escoceses ;-)

No Centro da cidade, um dos lugares mais interessantes é o GoMA, a Gallery of Modern Art. Em frente, uma sensacional estátua do Duque de Wellington com um cone de trânsito na cabeça.

GoMA

Duque de Wellington fanfarrão

Logo ali perto, tem a George Square, na qual fica a City Chambers.

City Chambers ali atrás

Passamos também pelo Scottish Exhibition & Conference Center, que tem um quê de Ópera de Sidney. Estava rolando uma manifestação pedindo educação de qualidade para todos no futuro, ou algo que o valha. Não sei exatamente qual é a crise, mas aparentemente o sistema universitário está sofrendo algumas mudanças que não agradam a todos.

Scottish Exhibition & Conference Center

Mas o lugar mais bonito que vimos, na minha opinião, foi a University of Glasgow, que data do século XV. A arquitetura da escola de bruxaria de Hogwarts, onde estuda Harry Potter, teria sido inspirada nesta universidade escocesa.

University of Glasgow

Perto de lá fica o Kelvingrove Museum & Art Galery, que também é uma construção bem bacana.

Kelvingrove Museum & Art Galery

E aí a gente desistiu de conhecer a cidade e se entregou ao álcool em vários bares...



... inclusive o Òran Mór, um bar que era uma igreja! Amém!




sexta-feira, 5 de março de 2010

Mea culpa


Eu nunca acreditei muito nessa história de que o clima mexe com a cabeça e com o humor das pessoas até vir pra cá. Não sei se o povo daqui, que em tese já estaria acostumado, sente menos os efeitos do inverno, mas o meu palpite é que eles também ficam meio pra baixo no frio, porque basta esquentar um pouco e fazer uns dias de sol que todo mundo fica mais animado, gentil e sociável. E olha que a temperatura está em torno de 10, 12º, nada de muito tropical.

Todo esse bla bla bla pra dizer que, com a perspectiva do fim do inverno e possivelmente por causa dos dias lindos de sol que tem feito em Paris, eu estou bem mais animada pra colocar meus projetos em prática. Um deles é voltar a escrever regularmente no blog, que anda tão abandonado. O meu problema é que eu tenho várias ideias e quero fazer tudo ao mesmo tempo; daí eu vejo que fazer tudo ao mesmo tempo vai dar muito trabalho e fico com preguiça. Mas não há de ser nada, disciplina se reaprende fácil. Escrever todo dia não é uma promessa, porque só prometo o que eu sei com certeza absoluta que vou cumprir. Mas a vontade de fazer a coisa funcionar é forte, então aguardem e confiem.

Se é que alguém ainda vem aqui, claro.

sábado, 13 de fevereiro de 2010

Cartazes no navio - Parte 1: Ferramenta de ajuste e reset para engenheiros

Estou fazendo uma coletânea de cartazes extremamente elucidativos e didáticos aqui do navio. Pra começar a série, vai um cartaz falando sobre esta ingrata profissão para a qual estudei que nem condenado.


Tradução

Instruções para o uso:

a) Localize o engenheiro que criou a situação
b) Segure firmemente o lado A da ferramenta com ambas as mãos
c) Inicie contato extremo com o lado B da ferramenta na cabeça do engenheiro até que uma das três condições abaixo torne-se aparente:

A. Linha de pensamento condiz com a realidade;
B. Engenheiro admite que cometeu um erro;
C. Engenheiro percebe que soluções não-calculadas podem funcionar.

Quando uma destas três condições acontecer, PARE! O engenheiro foi resetado!

Limpe cuidadosamente a ferramenta e retorne-a a seu depósito até que seja necessária novamente. Retorne o engenheiro ao seu local de trabalho e faça-o proceder de forma normal.

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

Livro muito bom sobre embarcados

Querem ouvir histórias hilárias sobre a vida de embarcado? Comprem esse livro: Don’t tell mum I work on the rigs, she thinks I’m a piano player in a whore house, do Paul Carter. Traduzindo: Não conta pra minha mãe que eu trabalho embarcado, ela pensa que eu sou pianista num puteiro. Pelo título dá pra imaginar o que vem pela frente, não dá?


Comprei esse livro em Aberdeen, a Macaé escocesa, e quando comecei a ler não conseguia parar de rir. Até acredito que o cara tenha inventado algumas coisas ou incorporado histórias de outras pessoas. Sabe aquele amigo que diz ter pego várias modelos enquanto bebia vinte litros de cerveja sem ficar bêbado e que além disso já fez Rio-São Paulo de carro em duas horas? Então, esse mesmo.

Mas se o que importa pra você forem as histórias e não os meios, então saiba que elas são muito boas. Que eu me lembre, os únicos livros que tinham me feito rir sozinho do jeito que eu ri nesse foram os do Asterix.


quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Engrossando o pescoço


Marcar qualquer atividade comigo em Paris tem sido um problema. Nas longas e fantásticas semanas de embarque nessa indústria vital, fica difícil prever quando e em que estado chegarei em casa para comparecer aos vários rendez-vous.

Sou achincalhado por família, amigos e esposa, que frequentemente vão sem minha presença a viagens, jantares e B52s (drink ótimo!). Por falhas na comunicação, já teve amigo que foi pra Paris ficar na minha casa e sequer me viu lá. Maíra se responsabilizou pelos entretenimentos e parcerias nos passeios. Ah, e já empatei o meio de campo de um casal em lua de mel também! Oferecemos o apê, que deveria estar vazio, mas cheguei bem no meio da temporada de caça. Pelo menos dei boas dicas de comida congelada.

Sempre chego mais tarde e parto mais cedo do que pensava, então tudo tem que ser agendado momentos antes da partida começar, já com transmissão ao vivo no local. Num continente que valoriza justamente a antecedência (quem nunca escutou que passagens de avião, trem e reservas de hotel ficam mais baratos quando comprados meses antes?), não ter como passar o calendário é motivo de atritos.

To pensando em desistir de colocar datas. Acho que a partir de agora vou trabalhar com estações do ano. Vejam esse exemplo de roteiro:

Suplicante: Rafa (no diminutivo, porque ainda rola carinho aqui), quando você embarca?
Embarcado: No começo do inverno.
Suplicante: E quando você volta, Rafael (perceberam a sutil diferença)?
Embarcado: No meio da primavera.
Suplicante: Sem dia especifico fica difícil, tava querendo marcar uma parada. Quando posso reservar?
Embarcado: Pro verão, quem sabe. Ou não...
Suplicante: Confirma então quando você chega com seu chefe.
Embarcado: Pode deixar, vou tentar (sabendo q nuuunca arrancarei essa informação dele). Mas é melhor jogar a reserva um pouco pra frente... só pra garantir. Vai naquele site "last minute reservation" e vê o que dá pra fechar.

Mas não tem nada não, tem que levar na esportiva senão pira na batatinha. Sabia que ia ser pedreira trabalhar embarcado na África, mas o aprendizado tá sendo muito legal. Com certeza a agitação de estar onde as operações de fato acontecem vai me deixar com o “pescoço grosso”, como dizia um colega lá do Norte, e isso na engenharia é muito valorizado.

Daqui a um tempo, tipo quando eu me aposentar, isso tudo passará e ficarão apenas os frutos... e sequelas desses anos engrossando o pescoço, no bom sentido. Tomara que não dê torcicolo.

terça-feira, 12 de janeiro de 2010

Paris

Eu espero que você tenha ido na época que eu enviei pro Rodrigo Bressane publicar. Mas se você não leu, vai aí embaixo o texto que eu escrevi sobre Paris no amigo oculto dos blogs que fizemos ano passado. Quando meu humor melhorar, novos textos aqui. Qualquer dia desses.
(...)

Quando te conheci, já tinha ouvido muito falar de você. Não me entenda mal, pois falo isso da forma mais respeitosa que se pode falar em relação a uma senhora de idade, mas é mundialmente conhecida a sua fama de sedutora. Tantos homens morreram por você, tantas guerras para te ter, tanta história dentro da sua história! Naturalmente, nosso primeiro encontro foi cheio de curiosidade e descobertas. Passamos juntas uma semana tão breve e com tantas perguntas ainda a responder que eu jurei visitá-la de novo um dia. Nunca é demais conferir pessoalmente o motivo de tanto encantamento.

Não é exagero dizer que você é cobiçada desde tempos tão antigos como, vamos dizer, a pré-história. Sua coleção de homens é longa, e cada um deles foi moldando seus contornos, sua personalidade, definindo quem você é: gauleses, romanos, merovíngios, carolíngios, capetos, valois e bourbons; reis, imperadores, plebeus e revolucionários. Tantas paixões que seria até indiscreto listá-los nome a nome.

Toda essa comoção, no entanto, não causa tanta surpresa. Basta te olhar de relance para perceber que, apesar de tantos anos passados, você continua linda. Sua beleza natural foi ainda reforçada ao longo do tempo por presentes de todos esses admiradores que você conheceu, fazendo com que o conjunto final, apesar de extravagante e um tanto quanto dourado, seja de tirar o fôlego de qualquer um. Um olhar mais apurado revela então muito mais sobre o fascínio que você exerce, pois aí descobrem-se todos os seus talentos. Você é a melhor, por exemplo, na arte, na gastronomia e na moda. Seus filhos falam uma língua que é pura poesia, e, ao contrário do que muitos dizem, podem ser pessoas gentis e até engraçadas – principalmente depois de algumas garrafas de vinho. Por tantas qualidades, sua fama é tal que milhões de pessoas no mundo inteiro sonham em te conhecer, e o brilho nos olhos delas quando o fazem é impagável.

Assim, na segunda vez que te encontrei já sabia um pouco o que esperar. Mas dessa vez a nossa relação era outra, pois pedi que você cuidasse de mim, que me acolhesse. E apesar de você também ser conhecida como uma senhora de nariz empinado, até um pouco esnobe, funcionou. Virei sua cria adotada; uma enteada que por vezes ainda estranha seus hábitos e alguns aspectos de sua cultura, mas que tem aprendido tanto sobre a vida com você que nem liga mais para seus poucos defeitos. Te escrevo hoje pra dizer o que você já sabe.

Paris, je t'aime.