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quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

Conversas imaginárias


Eu tenho o estranho hábito de conversar com as pessoas na minha cabeça. Não sei se é normal, mas não me importa. Crio conversas elaboradas, com perguntas e opções de respostas, ações e reações. Só que isso está ficando muito difícil aqui em Paris por causa da minha já amplamente citada pouca familiaridade com o idioma francês.

Outro dia, tentei bater um papo com o vendedor da loja de chapéus na qual eu comprei uma luva que não me serviu bem. Eu começava a tentar formar a frase em francês, mas só me vinham palavras soltas: luvas, mãos frias, eu quero trocar. E aí o vendedor respondia que não podia e eu pensava: recibo, direito do consumidor, eu exijo. Nada ficava bem elaborado e eu desisti de conversar com ele. Quando eu fui de fato trocar as luvas, consegui de alguma forma me expressar bem, ele me entendeu e foi um fofo: não só me deixou devolver as luvas como me deu desconto nos itens que eu peguei em troca.

Minha conversa atual é com o dono do meu apartamento. Pergunto de forma indignada por que ele não me avisou antes de cancelar a televisão a cabo e – sacrilégio dos sacrilégios – a internet. No dia em que as coisas saíram do ar eu fiquei ensandecida, bati na porta do escritório dele, mas ele não estava lá. Ele nunca está lá. Tenho discutido menos com o sujeito desde ontem, já que descobri um restaurante aqui perto que tem wi-fi e isso abrandou minha crise de abstinência de internet. Hoje também descobri que tem uma rede wi-fi da Orange que pega aqui em casa. É paga por hora e a hora não é barata. Além disso, a conexão é péssima e ainda tenho que fazer uma gambiarra na conexão do laptop toda vez que entro, mas é melhor que nada. Tenho feito conexões fracionadas pra ficar menos longe do resto do mundo: posso conversar de verdade com pessoas de verdade, mesmo que seja por email ou pelo blog.

terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

Troca de turma com surfistas

Ainda não consegui tirar uma foto decente do navio. Nos lugares a que tenho acesso, só dá pra ver um monte de estruturas sem muito sentido aos olhares leigos. Meu senso de didática pede ângulos mais panorâmicos e eles só podem ser alcancados no dia em que estiver indo embora, nos barquinhos de troca de turma chamados “surfers”. Aí vou conseguir uma distância boa pra foto!


Engraçado esse termo, “surfer”. No meu primeiro dia embarcado na África, na reunião de turno, falaram que um surfer quase bateu na plataforma ("This morning a surfer almost crashed on the plataform"). Minha viagem tinha durado 14 horas, eu tava cansado e com o número “5 semanas de embarque” martelando na cabeça . É muito ridículo, eu sei, mas por uns 2 ou 3 segundos pensei que um surfista quase tinha batido na plataforma. Ainda acrescentei mentalmente “poxa, aqui rola onda?! Caramba, África é bizarro!”. Ainda bem que guardei esse pensamento pra mim.

Maíra sem Internet


Assim como num escritório pode faltar tudo menos a máquina de café, Maíra perdeu a única coisa que não poderia sumir lá em casa: internet. Raiva, indignação e senso de desamparo são apenas alguns sentimentos rondando sua cabeça.

Acontece que o dono do apartamento resolveu cortar a internet e a TV (que nunca teve som) pra trocar o provedor. Logicamente não fomos informados com antecedência, claro né... senão ficava fácil demais. Diz a Maíra que o processo dura umas 2 semanas. Nesse meio tempo, minha doce japinha fica sem ter como atualizar o blog.

Enquanto isso mando algumas bobagens sobre minha estadia no navio. Nada a ver com Paris, cidadezinha provinciana, e sim com o grande, enorme, sem fim e sem saída, alto mar africano.

Preocupação: fico sem minha editora nesse meio tempo, se virem alguma coisa escrita errado ignorem. Ah, acentos também são um problema no meu teclado inglês.

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

Pílulas de beleza

É fácil, muito fácil, engordar em Paris. A cada esquina tem uma padaria e/ou uma doceria linda de morrer com quitutes fantásticos de se olhar e, principalmente, de se comer. Aqui perto de casa mesmo tem uma tal Maison Auvray que eu tenho evitado até de passar perto, porque tem uns doces absurdos e um pão que eu não quero nem comentar. Pra ter uma noção da gravidade da coisa, a única frase em francês que eu tenho falado com a maior naturalidade é "Bonjour! Une tartelette au citron, s'il vous plaît".

Mas pra quem quer emagrecer a indústria francesa também é generosa. Todo supermercado tem refeições prontas do Weight Watchers, por exemplo. Os produtos das farmácias, então, são de enlouquecer: tem pílula para celulite, retenção hídrica, acelerador de metabolismo, flacidez... mil e uma opções pra qualquer problema, real ou imaginário, que uma mulher possa ter. Aqui, as pílulas para celulite da Innéov e da Oenobiol, que andam em voga nos noticiários de beleza do Brasil, custam bem menos do que aí - mesmo considerando que pelas bandas de cá o gasto é em euros. Estou querendo experimentar, mas primeiro tenho que mudar meus caminhos para evitar passar nas padarias, docerias e barraquinhas de crepe de Nutella.

Pensando bem, vai ser bem difícil, mas não custa tentar. Bem que eles podiam vender força de vontade em caixinha.

Simplificando a vida


Me mudei! Cansei de Paris com suas belezas, gente bonita, lojinhas e restaurantes chiques. Vim morar num monte de aço flutuando na costa africana. Pretendo ficar aqui por cinco semanas ou enquanto meu gerente e senhor quiser. Isso mesmo, prefiro estar num navio com mais 250 homens, que nem sempre tomam banho e usam a mesma camisa por semanas, do que beber um bom vinho na Rue Cler com minha esposa e ligar pros meus pais pelo Skype. Chega! Capitalismo desenfreado que nos faz gostar de comer tortas fantásticas e visitar ruas cheias de vida e animação. Aqui é tudo mais simples: trabalhar por 12 horas todos os dias, com pausa de 20 minutos pra comer, dormir e prender a respiração de vez em quando nos corredores. Pronto, simples como a vida tinha que ser não é?! É né... já que não tem jeito mesmo.

Crítica do livro "A Prostituta Errante"

Vocês gostam de novela, daquelas que a mocinha se ferra durante 598 capítulos pra só se dar bem nos últimos dois? Então este livro é pra vocês. "A Prostituta Errante", de Iny Lorentz, se passa na Alemanha do século XV e conta a historia de uma adolescente inicialmente recatada que é ferrada por basicamente todo mundo que cruza o caminho dela. A autora ambientou o livro na mesma época da historia em que três caras lutavam para ser o novo papa.

Noivo, amigas, parentes, padres... geral está determinado a estuprar, bater e escorraçar a doce heroína. Sua personalidade impetuosa vai então sendo forjada na porrada ao longo do livro enquanto ela trama sua vingança no estilo "batendo de frente contra uma gangue barra pesada" dos comerciais da Globo. Pra mostrar nossa sorte por vivermos em um tempo onde podemos comer mais do que pão com banha de porco ou termos nossas esposas sodomizadas por ricos senhores feudais.

domingo, 15 de fevereiro de 2009

Parisienses

Sabe todas aquelas coisas que falam sobre os parisienses? Que são antipáticos, grossos, tratam todo mundo mal, não sorriem? Sei lá, pode ser que eu tenha tido sorte, mas me parece exagero.

Por exemplo. Outro dia, num impulso, resolvi comprar um espelho de chão. Só depois de pagar é que vi que o objeto em questão media 1,60 de altura e não sei quantos, mas muitos, quilos. Adicione a este cenário dois travesseiros e cinquenta cabides distribuídos em três bolsas grandes e voilà, uma pessoa sobrecarregada. Logo ao sair da loja, uma moça perguntou se eu queria ajuda. Eu ainda achando que eu era forte o suficiente, agradeci e recusei. Ao descer as escadas – não-rolantes, claro, nessas horas a escada nunca é rolante – do metrô, apareceram mais duas meninas oferecendo uma mãozinha, e eu tive que aceitar. Ao sair da estação, dois homens passaram o espelho pela porta comigo. Na rua, um senhor me ajudou quase até a esquina da minha rua. Eles devem ter pensado, assim como eu, que idiota que eu fui ao comprar tanta coisa ao mesmo tempo, mas mesmo assim foram solícitos e simpáticos.

Não só nesse meu episódio atrapalhado, mas em diversas outras ocasiões vi gentileza por parte das pessoas. O funcionário do serviço postal que me ajudou com um sorriso no rosto quando eu estava perdida sem saber o que fazer para retirar uma encomenda. A vendedora da loja que veio me ajudar a escolher um casaco e foi amável, embora eu não tenha comprado o tal casaco. O cara da mesa ao lado que elogiou nossa escolha de vinho. As várias pessoas que, vendo a minha dificuldade em falar francês, perguntaram se eu preferia falar inglês. E não é só comigo: vi várias vezes as pessoas sendo gentis com as outras, sorrindo, se cumprimentando.

Não tenho dúvidas de que eventualmente eu vou encontrar algum parisiense de mau-humor que vai ser grosso. Mas grosseria e má vontade a gente também vê frequentemente no Brasil e ainda assim temos fama de povo alegre. O que eu quero dizer aqui é que aquele estereótipo do parisiense mau-humorado não é nada além disso: um estereótipo. Assim como nem todo carioca gosta de samba e vive na praia. Ou que todo paulista é neurótico e só pensa em trabalho. Ou que todo baiano é preguiçoso. Enfim.

Ah, e eles também dizem que tomam banho todo dia. Confirmado por mais de um francês, juro.

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

Fotos dos passeios com Lud, Fernando e Noëmi

O Louvre e a famosa pirâmide lá no fundo

Pompidou

Na casa de Fernando e Noëmi, primo e "prima-cunhada" :-) de Lud

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

Primeira visita

E inauguramos a temporada de visitas! Por uma bela surpresa, recebi ontem um recadinho de Lud no Orkut e combinamos de sair hoje. Ela está aqui a trabalho para participar de uma feira de tendências de moda.

Bebemos muito vinho, comemos bem, rimos e fofocamos pra caramba e ainda descobrimos que clementines são tangerinas, e que custam quase 8 euros no menu de sobremesas no restaurante que fomos!

Estão aí as fotinhas. A gente aqui em casa...


... e no restaurante:


segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

Fashion victim

Andando de bobeira no Marais, fiz a melhor descoberta consumista de Paris até agora: Le Bazar de la Mode. É um espaço, provavelmente temporário, com mega promoções de roupas de Calvin Klein, Dolce & Gabbana, Jean Paul Gaultier, Diesel, Guess, Versace... confesso que não vi coisas de todas estas marcas, não. Talvez já tenham sido todas compradas, talvez eu não tenha garimpado o suficiente. Fato é que comprei um casaco e uma blusa Diesel, uma jaqueta jeans Calvin Klein e uma blusa Le Temps des Cerises (não conheço, mas pelo que vi é uma marca francesa bacaninha), e nenhuma das peças custou mais de 100 euros. Só pra dar uma idéia da ordem de grandeza dos preços, a blusa da Diesel custou 14 euros. Hein?

Pra quem quiser o endereço:

22 rue Sainte Croix de la Bretonnerie
75004 Paris

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

Caos no primeiro mundo é chique!


Glamour e atrações turísticas à parte, Paris é uma cidade interessante de se viver. Além das qualidades básicas como poucos assaltos e fantástica aparência dos produtos, Paris também nos diverte com seu jeitão porra louca. Muito bacana viver numa cidade que ao mesmo tempo tem regras de convivência evoluídas, tipicamente européias, mas ainda possui uma pitada de caos e atitudes pouco ortodoxas (por assim dizer). É um mix muito louco incluindo serviços públicos eficientes com greves, scooters enlouquecidas, perfumes maravilhosos e gente fedendo no elevador. Sério: acho legal ver pessoas atravessando a rua com o sinal ainda verde, gritando e rindo alto em lugares públicos enfim, burlando regras de etiqueta e leis meio que básicas, tudo ainda mantendo um ar educadíssimo e refinado quando necessário.

Essa semana uma garota pegou meu vácuo (no bom sentido) naquela porta bipartida do metrô, que só abre quando você insere o ticket, pra não ter que pagar passagem. Técnica fantástica, nem se eu quisesse teria conseguido impedir a manobra! Fiquei orgulhoso e parece que ela também, porque não parava de rir por ter conseguido concretizar a façanha. Nada de policiais aparecendo do teto e multas altíssimas sendo aplicadas. E o trem ainda saiu na horinha, olha que beleza.

Pena que eu não sei falar francês para aproveitar melhor estas experiências. Ontem, enquanto andava no metrô, pisei no pé de um cara. O tênis dele era todo laranjão, daqueles que já mancham logo depois de tirar da caixa. Ao sair do metrô ele se dirigiu a mim e falou coisas em francês que não imagino terem sido bacanas, mas consegui jogar minha melhor cara de otário e tudo acabou ficando por isso mesmo. Num país escandinavo da vida, era capaz do cara até me pedir desculpas por ter colocado o pé dele embaixo do meu...

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

Censo


Dia desses veio o moço do recenseamento do 7ème arrondissement com uns questionários pra gente responder. Tentei explicar pra ele que a gente tinha acabado de se mudar e que nossos dados realmente não iam fazer diferença naquele momento, mas ele acabou voltando no dia seguinte e foi irredutível: os papéis tinham que ser preenchidos e problema meu que eu me mudei tem dois dias e não falo francês. Ok, monsieur, você venceu.

Pra começar, era necessário listar os moradores do apartamento. Através de uma historinha didática, descubro que tenho que me descrever assim:

NOM: KIMURA, épouse PESSURNO
PRÉNOM: Maíra

Depois, uma série de perguntas praticamente íntimas. Onde você nasceu? Quando? Trabalha? Se trabalha, onde? Qual é o seu cargo? E quanto ganha? Qual é o endereço da sua empresa? Se não trabalha, por que? Anda a pé ou de metrô? Só faltou perguntar a cor da calcinha e se a mãe vai bem.

O moço veio buscar os questionários preenchidos lá pra umas 10 da noite e ficou checando se estavam completos. Se for um psicopata, rodei, porque agora ele sabe quem eu sou, meus hábitos, meu endereço e a minha história desde o berço. Mas vai ver que no primeiro mundo eles fazem assim e eu que sou paranóica, sei lá.

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

Fotos aleatórias

Eu passando pela Place de la Concorde, antes de chegar na Champs Elysées, que começa logo após esta praça. Foi aqui que Louis XVI, Marie-Antoinette, Danton, Robespierre, e milhares de outras pessoas morreram na guilhotina no período entre 1793 e 1795, quando então se chamava apropriadamente Place de la Révolution. É a maior praça de Paris.


Rafael na Champs Elysées com o Arco do Triunfo no fundo. A decoração de Natal do ano passado foi retirada logo antes da gente chegar aqui, e dizem que estava linda. Mas tudo bem, a Champs Elysées é linda de qualquer jeito. Apesar do frio.


Foto da loja da Maille que fica em frente da Église de la Madeleine. Vejam bem, é uma loja só de mostarda: tem mostarda sabor mel, manjericão, limão, figo, cassis e diversos outros sabores bizarros. Tudo bem, pra não ser injusta vou dizer que lá também são vendidos vinagres de sabores estranhos e acessórios para degustar e armazenar mostarda, como pazinhas e recipientes. Mas no fundo é isso: uma loja de mostarda. Os franceses são geniais!


segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

A rua com neve de manhã


Era assim que tava de manhã! Depois derreteu quase tudo e agora está chovendo, mas valeu a visão. Eu sou dos trópicos, poxa, nunca tinha visto nevar! O deslumbramento é válido... :-)

Da minha janela eu vejo...

... neve! Está nevando pela primeira vez desde que chegamos aqui. Ok, quando chegamos tinha neve no chão, mas já tava lá; dessa vez eu tô vendo a neve caindo na minha frente!