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quinta-feira, 18 de março de 2010

Fome de leitura

Se você perguntar para um francês sobre o hábito de leitura dos franceses, ele provavelmente vai bufar e em seguida reclamar que os livros já não têm a mesma importância de antigamente, que os jovens não dão tanto valor à literatura, que a televisão e a internet fazem com que as pessoas leiam cada vez menos e fiquem cada vez mais burras. Algumas dessas questões são até certo ponto válidas, mas vamos interpretar essa reação de forma objetiva: francês gosta de bufar e de reclamar quase tanto quanto gosta de ler.

Em Paris, basta olhar pra qualquer lado pra constatar que o francês é um consumidor voraz de literatura: sempre vai ter alguém com um livro aberto, independente do lugar e da situação. No metrô, incontáveis leitores, mesmo que o vagão esteja lotado e todo mundo esteja de pé. Pelos parques, principalmente nos meses mais quentes, gente lendo esparramada pelos bancos e gramados. Pelas ruas, gente que anda lendo e esbarrando nas pessoas. Já vi até gente que dirige lendo, olha que perigo! E onde há demanda, claro, há oferta: as bibliotecas, livrarias e sebos aqui são muitos e estão sempre cheios.

Numa breve e superficial análise histórica, podemos dizer que esse fenômeno tem origem lá na época da Revolução Francesa com as ideias de Condorcet sobre a educação popular. Segundo ele, todos deveriam ter acesso ao conhecimento de forma igualitária, pois a democracia só pode existir de fato num país se todos os indivíduos do seu povo – independente de raça, credo ou condição social – conhecem seus direitos. O coitado foi preso por discordar de outros pontos da doutrina revolucionária, mas seu legado foi a base para a criação da escola pública e gratuita na França; além disso, é a partir dessa noção geral de igualdade de conhecimento que foram instituídas ao longo da história recente várias políticas de incentivo à cultura.

Mas todo esse papo foi só porque eu queria mostrar uma placa muito legal que eu vi essa semana na rua:

Você tem fome de quê?: menu "gastronômico" de uma livraria

quinta-feira, 11 de março de 2010

Ikea transforma metrô de Paris em sala de estar

O slogan é simples: Ikea améliore votre quotidien (A Ikea melhora o seu cotidiano). O local da ação é super apropriado por remeter diretamente à ideia pricipal da campanha: o metrô, tão cotidiano na vida dos moradores de Paris. A ação é tão direta quanto é engenhosa: confortáveis sofás da loja anunciante substituem as cadeiras de algumas das principais estações de metrô da cidade – Saint-Lazare (linha 12, direção Porte-de-la-Chapelle), Champs-Elysées-Clemenceau (linha 13, direção Châtillon), Concorde (linha 8, direção Créteil) e Opéra (linha 8, direção Balard).





(Fonte das fotos: flickr da Ikea)

Eu amo quando uma marca me faz relembrar porque diabos eu escolhi ser publicitária.

Em Glasgow

Era um dia qualquer do mês passado. Toca o telefone; era o Pierre:

– Ma, a Ryanair tá em promoção! Vamos pra Glasgow no primeiro fim de semana de março?
– Mas o que tem em Glasgow?
– Não sei, mas tá muito barato.
– Então vamos.

Fomos. Mas a pergunta meio que permanece mesmo depois da viagem: o que tem em Glasgow?

Glasgow é a maior cidade da Escócia e a terceira maior do Reino Unido, o que faria supor que tem muita coisa interessante lá. Só que seu crescimento aconteceu principalmente a partir da Revolução Industrial, o que faz com que os prédios antigos e charmosos sejam poucos e as construções cinzas e as casas sem graça de tijolinhos sejam muitas. A expectativa geral da nossa comitiva – eu, Rafa, Gi e Pierre – era de encontrar uma espécie de Dublin em tamanho ampliado, mas, embora os escoceses sejam tão simpáticos quanto os irlandeses, as duas cidades são bem diferentes entre si. Glasgow, claro, sendo pior.

Mas, vá lá, tudo tem seu lado bom.

Os escoceses ;-)

No Centro da cidade, um dos lugares mais interessantes é o GoMA, a Gallery of Modern Art. Em frente, uma sensacional estátua do Duque de Wellington com um cone de trânsito na cabeça.

GoMA

Duque de Wellington fanfarrão

Logo ali perto, tem a George Square, na qual fica a City Chambers.

City Chambers ali atrás

Passamos também pelo Scottish Exhibition & Conference Center, que tem um quê de Ópera de Sidney. Estava rolando uma manifestação pedindo educação de qualidade para todos no futuro, ou algo que o valha. Não sei exatamente qual é a crise, mas aparentemente o sistema universitário está sofrendo algumas mudanças que não agradam a todos.

Scottish Exhibition & Conference Center

Mas o lugar mais bonito que vimos, na minha opinião, foi a University of Glasgow, que data do século XV. A arquitetura da escola de bruxaria de Hogwarts, onde estuda Harry Potter, teria sido inspirada nesta universidade escocesa.

University of Glasgow

Perto de lá fica o Kelvingrove Museum & Art Galery, que também é uma construção bem bacana.

Kelvingrove Museum & Art Galery

E aí a gente desistiu de conhecer a cidade e se entregou ao álcool em vários bares...



... inclusive o Òran Mór, um bar que era uma igreja! Amém!




sexta-feira, 5 de março de 2010

Mea culpa


Eu nunca acreditei muito nessa história de que o clima mexe com a cabeça e com o humor das pessoas até vir pra cá. Não sei se o povo daqui, que em tese já estaria acostumado, sente menos os efeitos do inverno, mas o meu palpite é que eles também ficam meio pra baixo no frio, porque basta esquentar um pouco e fazer uns dias de sol que todo mundo fica mais animado, gentil e sociável. E olha que a temperatura está em torno de 10, 12º, nada de muito tropical.

Todo esse bla bla bla pra dizer que, com a perspectiva do fim do inverno e possivelmente por causa dos dias lindos de sol que tem feito em Paris, eu estou bem mais animada pra colocar meus projetos em prática. Um deles é voltar a escrever regularmente no blog, que anda tão abandonado. O meu problema é que eu tenho várias ideias e quero fazer tudo ao mesmo tempo; daí eu vejo que fazer tudo ao mesmo tempo vai dar muito trabalho e fico com preguiça. Mas não há de ser nada, disciplina se reaprende fácil. Escrever todo dia não é uma promessa, porque só prometo o que eu sei com certeza absoluta que vou cumprir. Mas a vontade de fazer a coisa funcionar é forte, então aguardem e confiem.

Se é que alguém ainda vem aqui, claro.