Páginas

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

Maíra no Brasil e eu aqui


Muito legal que minha esposeca conseguiu ir pro Brasil passar seu aniversário com a família e com os amigos. Mandei e-mail pra ela perguntando sobre um monte de coisas básicas que quem mora fora do país deve fazer quando volta. Exemplos: comer açaí, ir nos restaurantes e bares que não vemos em outro lugar no mundo (pé sujo na Europa... huum, tá bom), beber caipirinha e ir à praia.

Interessante é que vários itens da lista envolviam comer ou beber alguma coisa. Pra quem também tá longe do Brasil, quais seriam as prioridades de quem volta à terra natal depois de um tempo fora? Queria saber se existe uma pessoa com necessidades mais eruditas e profundas. Sei lá: “visitar minha biblioteca favorita e rever os clássicos de Carlos Drummond de Andrade”. Arrisco jogar prioridades, vejam se concordam:

1) Rever a família e amigos (óbvio, e já começa assim que a pessoa sai da alfândega e vê o bando atrás da divisória).

2) Comer e beber todas as coisas que não existem aqui fora, ou se existem são beeeem mais caras (tipo comida japonesa e churrasco).

3) Visitar lugares e paisagens que signifiquem algo (aquela padaria da esquina, praias, cinema com legenda em português e por aí vai). Dependendo do tempo disponível, arrisca-se até uma viagem pra fora da cidade.

Na minha cabeça, a felicidade pela Maíra estar se divertindo e a inveja total estão andando de mãos dadas, fazendo piadinhas de duplo sentido uma pra outra o tempo todo. Fazer o que; eu estou aqui no Twilight Zone Africano, portanto não pude me juntar a ela nessa viagem. Fica pro final do ano, se tudo der certo nesse estranho universo corporativo.

domingo, 16 de agosto de 2009

O perigo de ficar tecnicamente mudo


Trabalhei tanto falando em inglês nos últimos anos que a minha terminologia técnica em português se atrofia a cada dia. Quase me esqueci de onde fica bombordo e boreste; me acostumei com portside e starboard side (agora com sua variação francesa: babord e tribord). Tava também no perrengue pra puxar na memória a seguinte tradução: grind. Depois de muito pensar, lembrei: lixar! É mole?!

Nomes de máquinas, ferramentas... aos poucos vou retornando ao segundo grau, quando nada disso fazia parte do meu mundo. Muitas vezes me pego pensando em inglês e quando faço anotações no meu caderninho, daquelas que só eu vou ler, lá vem a bendita língua! Não que meu inglês seja daqueles com sotaque britânico e rico em gramática, mas consigo mandar uma carta legal de reclamação pra Europcar quando é o caso (tradução livre no post anterior da Maíra).

Agora pintou na área um novo desafio: aprender os termos em francês. Sei não, viu, vou acabar esquecendo o que aprendi em inglês, não absorvendo as novas palavras em francês e ficando tecnicamente mudo no final! Vai saber...

***

Falando da língua inglesa, lembrei uma frase que eu adoro (descontem a bobagem dessa puxada sem sentido): "And the plot thickens". Tradução ruim: "E a trama fica mais densa". Tirei essa do filme Kill Bil: Vol.2, quando o vilão fala sobre a morte do peixe de sua filhinha. Pra funcionar tem que falar com a voz impostada, misteriosa, e os olhos semi-cerrados de quem está muito pensativo ou doido pra ir no banheiro. Acho que ela serve pra dizer que, se antes a trama tava esquisita, agora ela virou um bagulho muito doido!

Aliás, relembrando: na vida real, o ator que fez esse vilão, David Carradine, teve uma morte sem nexo total – igualzinho ao meu texto. Se enforcou sozinho num quarto de hotel na Tailândia, tentando bizarramente descabelar o palhaço. Acho que ele levou a sério outra famosa frase: "Vou conseguir nem que seja a última coisa que eu faça, porra!" Olhem a impagável explicação em inglês: "He died when a auto erotic sex game went wrong". Tradução: "Ele morreu quando um jogo auto-erótico deu errado". Língua fascinante essa do Harry Potter.

Quando eu ficar velhinho, to vendo que vou dar um trabaaaalho pros outros. Novo já to enchendo meu tempo escrevendo coisas assim...

terça-feira, 11 de agosto de 2009

O vidro do seu carro alugado foi quebrado: e agora?

Lembra que eu falei que quebraram o vidro do nosso carro alugado em Nice? Pois é. Vou contar o resto da história. Se acontecer com você, saiba o que fazer, porque a gente teve que descobrir na base da porrada.


Na esmagadora maioria das vezes, o seguro básico que a gente contrata pela locadora não cobre problemas com o vidro. E isso, amigos, a gente só descobre quando quebram o nosso.

A primeira providência é tentar consertar o carro por conta própria. Pode confiar que fica muito mais barato. Para ter uma noção, o vidro do nosso Peugeot 308 custava 161€ na própria Peugeot. Na Carglass, especializada em conserto de vidros, custava uns duzentos. Mas a peça estava em falta em todas as lojas da Peugeot e da Carglass que fomos, e acabamos tendo que devolver o carro na Europcar com o vidro quebrado mesmo.

Em uma semana, chegou a fatura avisando que eles já tinham descontado do nosso cartão a modesta quantia de 1.049,16 pelo vidro quebrado. Euros, vale lembrar.

O QUEEEEEEEEEEE?

Aí o Rafa fez um email dizendo mais ou menos assim:

"Cara Europcar, acho que houve algum engano. Vocês cobraram 1.049,16 por um pequenino vidro. Já alugamos carros anteriormente com vocês e ficamos plenamente satisfeitos, e queremos manter o bom relacionamento. Então, caceta, vejam que esse vidro quebrado foi culpa de algum bêbado filho da puta que quebrou o carro pra ver se dentro dele tinha algum dinheiro dos turistas babacas aqui. Mas não somos tão babacas assim a ponto de deixar dinheiro dentro do carro, principalmente porque vocês colaram um adesivo de um metro e meio no vidro traseiro com um Europcar enorme estampado, e vamos combinar que isso era um mega chamariz para bêbados filhos da puta que querem roubar dinheiro de turistas babacas. Então, se a gente raciocinar bem, a culpa foi de vocês. Mas a gente é legal, então vamos fazer uma coisa? Por que não dividimos o prejuízo? Vocês devolvem a porra do dinheiro já surrupiado da nossa conta, porque está fazendo muita falta, e em troca a gente paga o valor justo pelo vidro quebrado. Hein? Hein?".

Umas duas semanas depois eles devolveram 762,25 em crédito no nosso cartão. Prejuízo de 286,91. Uma merda, claro, mas é melhor que mil euros, né?

sexta-feira, 7 de agosto de 2009

Voltando pra casa, a odisséia

Pra dar uma noção mais apurada do que é voltar da África para a França após cinco semanitas de meditação em alto mar, aqui vai um pequeno panorama das várias etapas a serem cumpridas:


1ª parte - Hora 00:00

Dar o fora do navio: nessa etapa pulamos pra dentro do surfer e navegamos por mais ou menos duas horas até chegar a Soyo, que fica lá na pontinha norte de Angola. Vamos saltitando e chacoalhando felizes, ou não, ao sabor das ondas.

2ª etapa - Hora 02:00

Como gado, somos apinhados dentro das vans que nos transportarão ao “aeroporto” de Soyo. No barato 30 minutos esperando que os passaportes estejam nas nossas mãos. Depois dessa espera, partimos pro “aeroporto” e ainda esperamos outros 30 minutos pelo avião que nos levará a Luanda.

3ª etapa - Hora 04:00

Nosso avião sem ar condicionado finalmente sai de Soyo e, após breves 40 minutos, chega a Luanda. Esqueçam fazer o trajeto de carro, iria demorar umas 12 horas pelas barrenta estrada ligando as duas cidades. Tipo Rally dos Sertões no mundo bizarro.

4ª etapa - Hora 05:00

Bom, aqui temos duas opções: na primeira, consigo pegar um voo da Air France no mesmo dia. Nesse caso somos levados direto ao setor de embarque internacional do aeroporto de Luanda.

Na segunda opção, o voo é da TAP e só rola na manhã seguinte. Vou então para a Guest House da empresa, um hotel dedicado somente a funcionários, e passo a noite por lá para pegar o voo cedinho.

Espera... doce espera. No aeroporto sou obrigado a mostrar o passaporte pra uma quantidade considerável de pessoas. Tem fila antes de entrar na fila do check in... isso mesmo! Nessa “fila antes da fila” fica-se até duas horas, só pra se acostumar com o ambiente sem lojas ou ar condicionado. Próxima sequência de filas: check-in (meia hora) e imigração (15 minutos). Passada essa fase, você tem que mostrar para outro guarda que não está levando dinheiro angolano no bolso, o Kwanza. A resposta óbvia deveria ser “E pra que eu faria isso?”, mas polidamente deve-se responder “Não senhor, eu não estou”. A partir daí é esperar o voo sair.

5ª etapa - Hora 10:00

Enfim sou recebido pelo maravilhoso e glacial ar condicionado do avião para aliviar o dia. Tudo pronto e o avião sai, mas esperem! Quando vou de TAP ainda preciso fazer uma parada estratégica em Lisboa. Aí tá tudo bem, vejo lojas mais interessantes e tem até Mc Donalds e Pizza Hut pra comer! Dá pra distrair bem nessa etapa e esquecer o acréscimo de três horas no trajeto + uma noite na Guest House.

6ª etapa - Hora 20:00

Ufaaa, Paris... ai que beleza. Com a mala na mão, só falta pegar o trem pra casa e pronto! Uma hora depois estou lá.

Total da odisséia: Vinte e uma horas pegando o voo no mesmo dia ou vinte e oito horas caso eu pegue o voo no dia seguinte.

terça-feira, 4 de agosto de 2009

Luanda vista do navio

No meu embarque anterior, o navio em que estou trabalhando teve que ir a Luanda pra consertar alguns equipamentos. Como espaço no porto costuma ser caro e escasso, ficamos estacionados na baía, junto a uma renca de outros navios. Vendo a cidade de binóculo, fiquei impressionado com a quantidade de prédios sendo construídos. Pra tudo quanto era lado tinha guindaste e estruturas em várias fases de construção.

Um colega me mostrou um site bem legal com um monte de projetos para prédios em Luanda.

Diz o site que a maioria dos projetos já estão aprovados e com verba separada para início das obras. É cada um mais bonito e cheio de estilo que o outro!


Outra característica bem marcante de Luanda é a divisão clara entre o lado pobre e rico da cidade. Olhando para o centro e para a direita, vê-se prédios coloridos e casas bem construídas. Do lado esquerdo fica a favela, ocupando um espaço considerável da cidade.



Os meus colegas que foram a Luanda disseram que a cidade é tão cara quanto Paris ou Londres! Almoço em um restaurante normal, classe média, pode sair de cinquenta a setenta euros, mole. Alugar um apê de 50 m2 na parte mais nobre da cidade custa fácil 2.000 euros! Tudo por causa do petróleo, chamariz mundial para a inflação. Outro exemplo é Macaé, cidade pequena em que o custo de vida se compara ao do Rio de Janeiro.

Nota a respeito dos números: tenho que dar o desconto natural a este tipo de história presenciada por terceiros. Todo mundo sabe que quando se conta alguma coisa, pra marcar a situação e chamar a atenção da platéia, às vezes se aumentam os números, o tamanho das coisas...

Dentre os vários motivos do crescimento de Luanda está obviamente o petróleo, que trouxe empresas de tudo quanto é lado pra cidade. Uma consequência do progresso é o CAN 2010 (Campeonato Africano das Nações) que Angola vai sediar dessa vez. O evento vai acontecer obviamente em 2010 e já é visto na região como um divisor de águas pra mostrar pra geral o quanto o país tem se reerguido depois de anos e anos de guerra civil.

Dentre as informações bobas que obtive, fiquei sabendo que é facílimo importar automóveis no país. Isso pude constatar no meu caminho pro aeroporto e nas conversas com alguns angolanos. Facinho, facinho se vê os tão americanos SUVs top de linha da Toyota, Bentleys, Ferraris e Porsches nas ruas, ainda que os donos vivam em moradias diametralmente opostas à qualidade dos carros.

Tenho várias fotos tiradas do meu celular, durante o trajeto que fiz entre o aeroporto de Luanda e a Guest House da minha empresa (depois explico o que é isso). É um ângulo a mais sobre a cidade que eu gostaria de mostrar assim que aprender a mexer com os malditos cabos e softwares da Samsung. Estou escrevendo um texto sobre a saga de voltar para casa... aguardem e confiem.

sábado, 1 de agosto de 2009

Paris, 1920

Achei no Youtube estes dois vídeos feitos por Burton Holmes na Paris de 1920.

Neste primeiro filme, são mostrados a Avenue de l'Opéra, a Opéra Garnier, as ruas de Paris, a Porte Saint Denis, a Porte Saint Martin, a comemoração do 14 de julho e o Parc Monceau.


Neste outro filme, aparecem o Sena, a Pont Royal, a Notre Dame, a Academie Française, a Île de la Cité, a Pont Neuf, o Palais de Justice, a Conciergerie, o Palais de Luxembourg, o Pantheon, o Pensador de Rodin, Saint Etienne du Mont, a Bibliothèque Sainte-Geneviève, o Hôtel de Ville, o Palais Royal, o Louvre e a Rue Royal.



Nestes vídeos está a confirmação de que Paris é uma cidade extremamente bem conservada. Salvo os homenzinhos de bigode e chapéu (embora alguns exemplares ainda circulem por aí), os turistas e o trânsito bem mais tranquilo, a cidade continua com a mesma cara, com o mesmo charme.