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segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Obrigada pela mãozinha, Henry!

As minhas lembranças de infância são um pouco fragmentadas, mas eu lembro vivamente dos momentos dramáticos. E um desses momentos foi quando, nas quartas-de-final da Copa do Mundo de 1986, a França eliminou o Brasil por 4 a 3 nos pênaltis depois de um empate de 1 a 1. Eu chorava muito, dizia que odiava a França e os franceses e prometi que nunca, jamais, pisaria na terra dos desgraçados que eliminaram a minha seleção.

O tempo passou. E na final da Copa de 1998 aconteceu a nossa infame derrota pra França, que embora não tenha causado nada parecido com a choradeira de 86, foi motivo pra muita revolta e algumas lágrimas. Veio o mundial de 2006 e perdemos de novo nas quartas-de-final pros bleus. Desânimo.

O tempo passou de novo. Eu traí a promessa que eu fiz aos cinco anos e fui morar em Paris, de onde acompanhei a performance ridícula da França nas classificatórias para a Copa de 2010. Foi só no último jogo da repescagem, contra a Irlanda, que eles conseguiram a vaga no mundial, e mesmo assim foi controverso, já que todo mundo – menos o juiz – viu que o Henry deu uma ajeitada descarada na bola com a mão antes de cruzar pro Gallas marcar o gol da vitória.

Henry dando uma mãozinha no lance. Foto da Agência EFE.

Acho que eu não era a única brasileira torcendo pra França se classificar para a próxima Copa. Os motivos obviamente são escusos: vingança. Tenho fantasiado com fervor uma nova final entre a nossa seleção e a deles, e na minha mentalização é claro que e gente vai ganhar. E eu vou estar lá, comemorando na Champs Elysées com a minha camisa verde e amarela, fazendo festa e zoando com a cara de poste dos franceses. Posso acabar levando porrada, já que um grito preso na garganta por vinte e quatro anos vai me fazer ficar muito abusada, mas tudo bem, eu apanho feliz.

Vai acontecer, vai acontecer.

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Le nom du film

Eu queria que alguém me explicasse por que tantos filmes que entram em cartaz na França mantêm o nome original em inglês. Não tenho estatística oficial, mas o meu palpite é que mais ou menos metade dos títulos, se não mais, vai pro cinema sem tradução. Pra um povo que em tese é meio anglófobo, isso é um tanto quanto estranho.

Só pra citar alguns exemplos dos últimos meses:

Girlfriend Experience
The Reader
Inglorious Basterds
Whatever Works
Public Enemies
The Other Man
Looking for Eric
Sunshine Cleaning
Dancing Girls
The Pleasure of Being Robbed
Good Morning England
Fish Tank

E o mais bizarro: Very Bad Trip, nome de batismo "francês" para o filme The Hangover (em português, Se beber não case).


Enfim. Whatever.

terça-feira, 10 de novembro de 2009

Mozart L'Opera Rock

Dizem que pra ajudar no aprendizado do francês a gente deve ver bastante televisão francesa, meio que pra ir assimilando por osmose a maneira de falar deles. Eu faço isso bastante, mas às vezes fico com uma certa preguiça de prestar atenção e coloco no canal de clips.

Dia desses eu me peguei, sem perceber, cantando junto com o artista da televisão uma música que eu não sabia que sabia, e descobri que eu gostava muito dela. Era L'assassymphonie, do musical Mozart L'Opera Rock. Fui pesquisar e me choquei mais uma vez ao perceber que eu conhecia mais umas duas músicas do espetáculo, e aí eu decidi que ou eu ia ver ou eu ia ver. Fui.

O musical conta, como o próprio nome já deixa claro, a história do Mozart. É em francês, mas dá pra entender bastante coisa; no entanto, os diálogos são secundários, e os pontos altos são os números musicais. Verdade que o ator que faz o Mozart não canta muito bem, mas não chega a prejudicar o conjunto, pois na hora dos hits o povo canta junto e nem presta muita atenção ao aspecto técnico da coisa.

E tudo é muito grandioso, alegre, colorido, pirotécnico. É um espetáculo, mesmo.

domingo, 8 de novembro de 2009

Je ne suis pas là


Não, eu não estou em Paris no momento. Vim curtir um calorzinho na cidade natal, e enquanto todo mundo reclama do bafão que está fazendo aqui na primavera, eu fico feliz da vida, suando, pensando que seria pior passar friaca no outono parisiense.

Só que eu já tinha alguns textinhos mais ou menos prontos pra colocar no blog, e também vou reeditar algumas viagens que fiz antes de morar em Paris. Então, embora eu não esteja lá (e por , eu quero mesmo dizer , porque em francês pode significar , mas também pode significar aqui), o espaço não vai ficar totalmente abandonado. Deem uma passadinha de vez em quando :-)

E para os da terrinha, me avisem quando tiver alguma coisa legal rolando, porque eu to louca de vontade de rever todo mundo!

sábado, 7 de novembro de 2009

Montanhas Atlas

Já que estávamos em Marrakech, resolvemos conhecer a região das Montanhas Atlas, que fica mais ou menos perto de lá.

A primeira parada foi numa loja berbere que, em tese, vendia produtos mais baratos que os de Marrakech. Só que os preços eram bem absurdos, e acabamos nem comprando nada.

Depois paramos em Sitti Fatma, onde fizemos uma trilha morro acima para ver uma cachoeira. Estava meio frio, mas mesmo assim tinha gente mergulhando.

Sitti Fatma

Tem uma maluca na cachoeira de roupa!

Cachoeira vista de cima

Refrigeração marroquina

Tapetes em Sitti Fatma

Também fomos no Jardin du Safran, onde há uma grande plantação de açafrão. Pena que ainda não estava na época das flores...

Jardin du Safran

Pra terminar, passamos numa loja de uma cooperativa Argan, onde é possível ver mulheres da região quebrando as nozes de argan para fazer óleo e diversos outros produtos derivados.

Cooperativa Argan

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

Pra lá de Marrakech

Antes de começar a falar de Marrakech, eu queria dizer uma coisa. Eu sou, sim, uma pessoa relativamente fresca. Mas também sou flexível e safa, e há que se considerar que eu sou cria da ECO e fui a todos os ENECOMs organizados durante o meu tempo de faculdade, ou seja, se tiver que passar perrengue, eu passo.

Dito isso, vou contar sobre a nossa recente viagem pra Marrakech.

Pra começar, uma escolha equivocada no planejamento fez com que ficássemos hospedados no pior lugar da cidade, a Medina. Escolhemos um hotel lá porque o centro histórico da cidade é quase sempre o melhor lugar para ficar, já que os principais pontos turísticos costumam estar nele. Só que, aparentemente, essa regra se aplica a cidades européias; não a cidades de uma forma geral.

A Medina é um labirinto de ruas e becos sujos e mal iluminados, e apesar das coisas serem razoavelmente próximas umas das outras, é extremamente difícil achar o caminho; então, 70% do tempo a gente passou se perdendo. Mapa? Esquece. As ruas não são sinalizadas, e vários dos bequinhos nem aparecem na geografia oficial, ou seja, pra saber pra onde ir é preciso perguntar a um nativo. Só que o nativo cobra até pelo bom dia que dá, e qualquer informação deve ser acompanhada de uma gorjetinha.

Andar de táxi também é uma aventura, já que os motoristas tentam cobrar muito mais do que a corrida vale (não pode dar mais que 20 dirham dentro da cidade), e ainda vão parando pra todos que fazem sinal, enchendo o carro de gente.

Eu entendo que o Marrocos é um país pobre e que o turismo é uma grande fonte de lucro para eles, e que pra quem ganha em dólar ou em euro não é nenhum drama dar um trocadinho em dirham, a moeda local. Mas a obrigação, quase coação, incomoda, sabe? Parece que as pessoas já olham pra você com cifrõezinhos pulando dos olhos.

Mas enfim. Tem a parte boa também.

Apesar de mal-conservados, os prédios históricos são bem bonitos. Destaque para as Tombeaux Saadiens, um dos últimos resquícios da dinastia saadiana que vigorou em Marrakech nos séculos XVI e XVII. O mausoléu, que guarda os restos mortais do sultão Ahmed al-Mansur Saadi e de toda a sua família, só foi redescoberto em 1917.

Tombeaux Saadiens

Mosaicos das Tombeaux Saadiens

Também vale a pena conferir os mosaicos e jardins do Palais Bahia, um palácio construído no século XIX para abrigar o harém do grão-vizir Ba Ahmed Ben Moussa.

Palais La Bahia

O minarete da Koutobia, que se vê de praticamente toda a cidade, é um dos símbolos de Marrakech. Não-muçulmanos não podem entrar na mesquita, mas ao redor dela tem um jardim bacana e algumas escavações arqueológicas em exposição.

Koutobia

Koutobia de novo, lá no fundo

Do terraço do riad

E aí tem a praça Djeema El-Fna e toda a sua confusão de cores, aromas e sons. E quando eu digo confusão, é exatamente isso que eu quero dizer: o colorido das frutas expostas misturado com o cinza da fumaça das barracas de comida; o cheiro de churrasquinho e chá de menta misturado com o das especiarias; música dos artistas de rua misturada com o barulho das milhares de motos que cruzam a praça.

Djeema El-Fna

Djeema El-Fna de cima

Nas extremidades da Djeema El-Fna começa o labirinto dos souks, os mercados cobertos – ou camelódromos, vamos deixar de rodeios – onde se vende de tudo. Roupas, tênis, artesanato, bijuterias, prataria, tapetes, qualquer coisa que se imagine tem ali. Provavelmente tudo falsificado, naturalmente, e com o preço lá nas alturas pros bobos dos turistas. Não pergunte o preço de nada se não quiser realmente comprar, porque depois desse contato inicial o vendedor vai te perseguir, barganhar, chorar e fazer da sua vida um inferno até ele conseguir fazer a venda.

Souk

Mais afastado do centro da cidade fica o Jardin Majorelle, um jardim botânico construído pelo pintor Jacques Majorelle e posteriormente comprado e aberto ao público pelo estilista Yves Saint Laurent e seu parceiro Pierre Bergé. Os azuis, amarelos e laranjas vivos se fundem com a arquitetura de toques marroquinos, resultando num lugar único, lindo e muito tranquilo.

Jardin Majorelle

Jardin Majorelle

Também afastado da cidade fica o Palmeraie, onde todos os resorts de luxo se instalaram. Os astros de Hollywood amam a cidade porque eles se hospedam ali, bem longe do burburinho da Medina e perto das palmeiras, camelos, campos de golfe e champanhes. Quando eles ficam assim, pra lá de Marrakech, é fácil gostar de lá.

Camelos

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Ainda o amigo oculto

Eu finalmente mandei meu texto sobre Paris pro Bressane! Já tá no blog dele.

Vai lá ver! :-)