Antes de começar a falar de Marrakech, eu queria dizer uma coisa. Eu sou, sim, uma pessoa relativamente fresca. Mas também sou flexível e safa, e há que se considerar que eu sou cria da
ECO e fui a todos os ENECOMs organizados durante o meu tempo de faculdade, ou seja, se tiver que passar perrengue, eu passo.
Dito isso, vou contar sobre a nossa recente viagem pra Marrakech.
Pra começar, uma escolha equivocada no planejamento fez com que ficássemos hospedados no pior lugar da cidade, a Medina. Escolhemos um hotel lá porque o centro histórico da cidade é quase sempre o melhor lugar para ficar, já que os principais pontos turísticos costumam estar nele. Só que, aparentemente, essa regra se aplica a cidades européias; não a cidades de uma forma geral.
A Medina é um labirinto de ruas e becos sujos e mal iluminados, e apesar das coisas serem razoavelmente próximas umas das outras, é extremamente difícil achar o caminho; então, 70% do tempo a gente passou se perdendo. Mapa? Esquece. As ruas não são sinalizadas, e vários dos bequinhos nem aparecem na geografia oficial, ou seja, pra saber pra onde ir é preciso perguntar a um nativo. Só que o nativo cobra até pelo bom dia que dá, e qualquer informação deve ser acompanhada de uma gorjetinha.
Andar de táxi também é uma aventura, já que os motoristas tentam cobrar muito mais do que a corrida vale (não pode dar mais que 20 dirham dentro da cidade), e ainda vão parando pra todos que fazem sinal, enchendo o carro de gente.
Eu entendo que o Marrocos é um país pobre e que o turismo é uma grande fonte de lucro para eles, e que pra quem ganha em dólar ou em euro não é nenhum drama dar um trocadinho em dirham, a moeda local. Mas a obrigação, quase coação, incomoda, sabe? Parece que as pessoas já olham pra você com cifrõezinhos pulando dos olhos.
Mas enfim. Tem a parte boa também.
Apesar de mal-conservados, os prédios históricos são bem bonitos. Destaque para as Tombeaux Saadiens, um dos últimos resquícios da dinastia saadiana que vigorou em Marrakech nos séculos XVI e XVII. O mausoléu, que guarda os restos mortais do sultão Ahmed al-Mansur Saadi e de toda a sua família, só foi redescoberto em 1917.
Tombeaux Saadiens
Mosaicos das Tombeaux Saadiens
Também vale a pena conferir os mosaicos e jardins do Palais Bahia, um palácio construído no século XIX para abrigar o harém do grão-vizir Ba Ahmed Ben Moussa.
Palais La Bahia
O minarete da Koutobia, que se vê de praticamente toda a cidade, é um dos símbolos de Marrakech. Não-muçulmanos não podem entrar na mesquita, mas ao redor dela tem um jardim bacana e algumas escavações arqueológicas em exposição.
Koutobia
Koutobia de novo, lá no fundo
Do terraço do riad
E aí tem a praça Djeema El-Fna e toda a sua confusão de cores, aromas e sons. E quando eu digo confusão, é exatamente isso que eu quero dizer: o colorido das frutas expostas misturado com o cinza da fumaça das barracas de comida; o cheiro de churrasquinho e chá de menta misturado com o das especiarias; música dos artistas de rua misturada com o barulho das milhares de motos que cruzam a praça.
Djeema El-Fna
Djeema El-Fna de cima
Nas extremidades da Djeema El-Fna começa o labirinto dos souks, os mercados cobertos – ou camelódromos, vamos deixar de rodeios – onde se vende de tudo. Roupas, tênis, artesanato, bijuterias, prataria, tapetes, qualquer coisa que se imagine tem ali. Provavelmente tudo falsificado, naturalmente, e com o preço lá nas alturas pros bobos dos turistas. Não pergunte o preço de nada se não quiser realmente comprar, porque depois desse contato inicial o vendedor vai te perseguir, barganhar, chorar e fazer da sua vida um inferno até ele conseguir fazer a venda.
Souk
Mais afastado do centro da cidade fica o Jardin Majorelle, um jardim botânico construído pelo pintor Jacques Majorelle e posteriormente comprado e aberto ao público pelo estilista Yves Saint Laurent e seu parceiro Pierre Bergé. Os azuis, amarelos e laranjas vivos se fundem com a arquitetura de toques marroquinos, resultando num lugar único, lindo e muito tranquilo.
Jardin Majorelle
Jardin Majorelle
Também afastado da cidade fica o Palmeraie, onde todos os resorts de luxo se instalaram. Os astros de Hollywood amam a cidade porque eles se hospedam ali, bem longe do burburinho da Medina e perto das palmeiras, camelos, campos de golfe e champanhes. Quando eles ficam assim, pra lá de Marrakech, é fácil gostar de lá.
Camelos