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quinta-feira, 5 de novembro de 2009

Pra lá de Marrakech

Antes de começar a falar de Marrakech, eu queria dizer uma coisa. Eu sou, sim, uma pessoa relativamente fresca. Mas também sou flexível e safa, e há que se considerar que eu sou cria da ECO e fui a todos os ENECOMs organizados durante o meu tempo de faculdade, ou seja, se tiver que passar perrengue, eu passo.

Dito isso, vou contar sobre a nossa recente viagem pra Marrakech.

Pra começar, uma escolha equivocada no planejamento fez com que ficássemos hospedados no pior lugar da cidade, a Medina. Escolhemos um hotel lá porque o centro histórico da cidade é quase sempre o melhor lugar para ficar, já que os principais pontos turísticos costumam estar nele. Só que, aparentemente, essa regra se aplica a cidades européias; não a cidades de uma forma geral.

A Medina é um labirinto de ruas e becos sujos e mal iluminados, e apesar das coisas serem razoavelmente próximas umas das outras, é extremamente difícil achar o caminho; então, 70% do tempo a gente passou se perdendo. Mapa? Esquece. As ruas não são sinalizadas, e vários dos bequinhos nem aparecem na geografia oficial, ou seja, pra saber pra onde ir é preciso perguntar a um nativo. Só que o nativo cobra até pelo bom dia que dá, e qualquer informação deve ser acompanhada de uma gorjetinha.

Andar de táxi também é uma aventura, já que os motoristas tentam cobrar muito mais do que a corrida vale (não pode dar mais que 20 dirham dentro da cidade), e ainda vão parando pra todos que fazem sinal, enchendo o carro de gente.

Eu entendo que o Marrocos é um país pobre e que o turismo é uma grande fonte de lucro para eles, e que pra quem ganha em dólar ou em euro não é nenhum drama dar um trocadinho em dirham, a moeda local. Mas a obrigação, quase coação, incomoda, sabe? Parece que as pessoas já olham pra você com cifrõezinhos pulando dos olhos.

Mas enfim. Tem a parte boa também.

Apesar de mal-conservados, os prédios históricos são bem bonitos. Destaque para as Tombeaux Saadiens, um dos últimos resquícios da dinastia saadiana que vigorou em Marrakech nos séculos XVI e XVII. O mausoléu, que guarda os restos mortais do sultão Ahmed al-Mansur Saadi e de toda a sua família, só foi redescoberto em 1917.

Tombeaux Saadiens

Mosaicos das Tombeaux Saadiens

Também vale a pena conferir os mosaicos e jardins do Palais Bahia, um palácio construído no século XIX para abrigar o harém do grão-vizir Ba Ahmed Ben Moussa.

Palais La Bahia

O minarete da Koutobia, que se vê de praticamente toda a cidade, é um dos símbolos de Marrakech. Não-muçulmanos não podem entrar na mesquita, mas ao redor dela tem um jardim bacana e algumas escavações arqueológicas em exposição.

Koutobia

Koutobia de novo, lá no fundo

Do terraço do riad

E aí tem a praça Djeema El-Fna e toda a sua confusão de cores, aromas e sons. E quando eu digo confusão, é exatamente isso que eu quero dizer: o colorido das frutas expostas misturado com o cinza da fumaça das barracas de comida; o cheiro de churrasquinho e chá de menta misturado com o das especiarias; música dos artistas de rua misturada com o barulho das milhares de motos que cruzam a praça.

Djeema El-Fna

Djeema El-Fna de cima

Nas extremidades da Djeema El-Fna começa o labirinto dos souks, os mercados cobertos – ou camelódromos, vamos deixar de rodeios – onde se vende de tudo. Roupas, tênis, artesanato, bijuterias, prataria, tapetes, qualquer coisa que se imagine tem ali. Provavelmente tudo falsificado, naturalmente, e com o preço lá nas alturas pros bobos dos turistas. Não pergunte o preço de nada se não quiser realmente comprar, porque depois desse contato inicial o vendedor vai te perseguir, barganhar, chorar e fazer da sua vida um inferno até ele conseguir fazer a venda.

Souk

Mais afastado do centro da cidade fica o Jardin Majorelle, um jardim botânico construído pelo pintor Jacques Majorelle e posteriormente comprado e aberto ao público pelo estilista Yves Saint Laurent e seu parceiro Pierre Bergé. Os azuis, amarelos e laranjas vivos se fundem com a arquitetura de toques marroquinos, resultando num lugar único, lindo e muito tranquilo.

Jardin Majorelle

Jardin Majorelle

Também afastado da cidade fica o Palmeraie, onde todos os resorts de luxo se instalaram. Os astros de Hollywood amam a cidade porque eles se hospedam ali, bem longe do burburinho da Medina e perto das palmeiras, camelos, campos de golfe e champanhes. Quando eles ficam assim, pra lá de Marrakech, é fácil gostar de lá.

Camelos

4 comentários:

Cris Chagas disse...

Ai, amiga, pq vc não ficou em Palmaraie?! hehe
Olha, adorei suas fotos, o lugar parece uma experiência bem diferente e interessante, mas não sei se teria coragem de ir sozinha (só com o Rapha)... Esse é um dos poucos lugares que eu preferiria uma excursão. Eu não curto excursão, mas acho a cidade muito confusa e tenho medo dos homens de lá hahaha Além disso, lá não tem free tour kkk

Rafael disse...

Gente, esclarecendo Marrakech: eu me considero um cara tranquilo, bastante calmo eu diria e como a Maira bem falou, ja fui pra muito buraco e passei muito perrengue sem problema nenhum. Porem, acho que essa cidade foi uma das que mais me irritou na historia! Me vi literalmente berrando na rua com um dos varios transeuntes pedindo dinheiro apos uma informacao ridicula que nem queriamos ou pedimos.

Nenhuma vista, nenhum dos castelos pessimamente conservados...nada faz valer a pena ir pra aquela coisa!!! Serio, ja se fazem algumas semanas desde que consegui sair de la e so de me lembrar agora eu fiquei irritado (os palavroes borbulham na minha cabeca). Querem ver a arquitetura Marroquina: vejam as fotos na internet. Profusao de cheiros e cores: so se vc gostar de escapamento de scooter e cheiro de galinheiro. Quer entrar em contato com a cultura local: se prepara pra parasitas muuuito piores do que os pedintes Brasileiros...e por ai vai.

Resumindo: nao tem glamour la, nao tem experiencia exotica...so lixo, gente pentelha pra car£%*&^"!alho e hoteis fora do centro feitos pra Europeus que por sentirem tanto a falta de Sol topam ir pra qualquer buraco na Africa.

Ai q raiva q eu fiquei agora...meu dia piorou so de lembrar.

Patricia Nascimento Delorme disse...

O nordeste brasileiro ja esta assim! Tudo caro, serviço de piiiiiiiii... Na Bahia, um cara na rua nos pediu uma grana pra dizer que o hotel que a gente procurava ficava na proxima esquina!

Maíra K. disse...

Caramba, Patricia, não sabia que estava nesse ponto no Nordeste. Mas acaba sendo um padrão de lugares turísticos em que a população vive em condições financeiras precárias... triste, mas é verdade.